sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Garota Ideal: Simplesmente maravilhoso


Ontem finalmente assisti ao filme “A garota ideal” com Ryan Gosling.

Fazia tempo desde que soube de sua existência (o filme é de 2007) que me interessei em assisti-lo, por dois motivos centrais, o primeiro Ryan Gosling, ator que gosto demais, pois se trata de alguém verdadeiramente talentoso, se dedicando a cada papel de forma magnífica, fazendo-nos acreditar em personagens que cairiam facilmente no ridículo se realizados por tantos outros atores mais badalados e melhores pagos que ele.

De tais fatores surge o segundo motivo do meu interesse em ver este filme, o fato inusitado de alguém se relacionar completamente, afetivamente falando e não apenas, neste caso específico isso verdadeiramente nem acontece, sexualmente com uma boneca inflável, pois é isto que Lars Lindstrom faz quando chega à sua casa, por meio da internet, tal visita que o deixa veradeiramente feliz.

É lógico que se pode entender e imaginar diversos motivos para se ter um filme deveras tolo nas mãos, porém Craig Gillespie em seu filme de estreia, juntamente com o roteiro primoroso de Nancy Oliver (roteirista de A sete palmos) e o extremo talento já mencionado de seu ator principal, conseguiram realizar algo incrivelmente emocionante.

Ri em alguns momentos não posso negar, há situações cômicas, mas a maior parte do tempo a sensação era de choro contido, querendo realmente desabar em lágrimas pelo cinema, Meu Deus quanto exagero! Nem tanto, com o desenrolar da história já se consegue “enxergar” Bianca (a boneca inflável) com os olhos de Lars, o que acontece não só com o público, mas com todos os habitantes da pequena cidade em que ele mora, ao contrário do que se poderia imaginar.

Lars é um rapaz tímido, sensível e doce, tem um trabalho e mora na garagem da casa do irmão, possui “estranhos” hábitos como vestir diversas camisas e carregar no pescoço um cobertozinho de quando era criança, devido a diversas fobias, inclusive a de sentir dor ao ser tocado, Lars prefere se manter distante de tudo e tod@s, porém com a chegada de Bianca aos poucos toda a pequena comunidade vai tomando parte de sua vida, ao invés de tratá-lo como um anormal, as pessoas aceitam sua condição e passam a realizar e convidar Bianca para diversas atividades, como cortar o cabelo, ou “ler” para crianças doentes.


Apesar do irmão de Lars, Gus (Paul Schneider) ser o único a não se inserir totalmente em tal “fantasia”, sua esposa Karen (Emily Mortimer), principal responsável pelo delicado e sutil tratamento sugerido pela Dra Dagmar (Patricia Clarkson, excelente como de costume), sempre está disposta a intermediar certos conflitos e assim a família que resta a Lars também é inteiramente envolvida no convício com Bianca, durante as refeições, na hora de dormir, nos passeios e na doença também, pois Lars e Bianca atravessam juntos, todo um ciclo possível em um relacionamento e também me arrisco a dizer que em se tratando do que se denomina em Psicodrama de objeto intermediário, ou seja, algo que verdadeiramente ocupa lugar e papel de alguém, ele conclui com ela todas as etapas possíveis, incluindo o luto.

E é acompanhando esse relacionamento diverso tanto quanto cheio de significados, que encontramos a possibilidade de rever preconceitos e opiniões já formadas, se emocionando verdadeiramente quando a morte de Bianca está próxima.

O fato de se utilizar de algo inanimado como suporte para a convivência entre pessoas reais, nos faz perceber o quanto o ser humano pode se sentir ameaçado necessitando de subterfúgios inimagináveis por mentes supostamente normais.

A Garota Ideal é assim delicado tanto quando profundo, faz rir tanto quanto faz chorar, encanta tanto quanto perturba, ou seja, tudo que tudo deveria ser.

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